Décadas vivemos doutro lado do oceano posto entre nós e as Terras de Pindorama. E nesse nosso regresso às origens eu não poderia deixar de mostrar ao meu marido vestígios doces da minha infância. Meu eterno companheiro Enzo é o mais velho dos noves filhos de uma das muitas famílias italianas radicadas no Oeste Paulista – gente trabalhadora da Terra Nostra.
No frenético universo multimídia jornalistas permeiam incessantemente campos muitas vezes do desconhecido. Donde têm de extrair informações inteligíveis aos vários formatos audiovisuais da comunicação contemporânea.
O eco da linda canção de letra lírica entoada ao sabor do vento sul, duma das janelas do casario ao redor, encantou o meu caminhar na praça central da pequenina cidade Natal de mamãe. A música tocada tocou minha alma naquela fria manhã de quinta-feira interiorana.
Felizes éramos nós piracicabanos no Cine Politeama com as mãos lambuzadas pelas guloseimas da Bombonière do Passarela. Época de delícias douradas de chocolate lá na Praça José Bonifácio. Tempo de gargalhadas ingênuas, como nas películas do intrépido Mazzaropi.
Penso que os verdes ares e o esplendoroso céu do nosso pedaço de chão ajudaram na chegada dos imigrantes italianos à região sudeste entre as décadas de 1880 e 1910. Os meus bisavós-paternos Archangelo Porrelli e Maria Lucafó, assim como os avós-maternos Paschoal Moroni e Angelina Perin, também atravessaram o Atlântico rumo à lavoura Terra Nostra.
Dos tantos ensinamentos de Jesus Cristo não julgar e partilhar são dos mais essenciais a quem busca os caminhos da retidão. Este nariz de cera acima parece até ‘conversa pra boi dormir’ ou algum tipo de ‘papo estranho’; sobretudo nesse tempo em que o ter sufoca o ser. A bem da verdade muitos de nós agem com desdém a temas assim.
Órfão de pai hoje eu entendo quão importante foi descobrir-me prodígio na escola da vida a lapidar a minha índole ante o espelho das minhas imperfeições, a esculpir os meus talentos na solidão e a fortalecer o caráter no interminável exercício das diferenças além-fronteiras.
‘Carioca da gema’ escolado nos palcos do mundo, nunca pensei que aquela virada cultural, em Piracicaba, no interior paulista, virasse tanto a minha cabeça. Depois de tocar no belo Teatro Erotides de Campos, numa manhã ensolarada de sábado, no Engenho Central, peguei a minha amiga viola caipira, atravessei a Ponte Aninoel Dias Pacheco e fui ao encontro da minha família.
Talvez o poeta lusitano Fernando Pessoa se contorça lá no Céu pelo abusado uso que faço ao adequar o título acima a partir da sua célebre frase: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Que me perdoe o Poeta. O fiz para tentar precisão maior a estas linhas que me ocorreram escrever
As badaladas ecoam do cume da torre sineira no exato instante em que os ponteiros do relógio da Igreja dos Arcanjos, simultânea e opostamente, apontam para o norte e à direção sul. É a hora da Ave Maria. A capela é ponto sagrado de encontro de fiéis a rezar todo santo dia. Ao bem da verdade, como na voz do povo, todo dia é santo.