Imaginário

Foto: reprodução da web

    O eco da linda canção de letra lírica entoada ao sabor do vento sul, duma das janelas do casario ao redor, encantou o meu caminhar na praça central da pequenina cidade Natal de mamãe. A música tocada tocou minha alma naquela fria manhã de quinta-feira interiorana. Os pássaros dialogavam felizes sob feixes de sol anunciando um dia de azul inteiro pela frente. Aquietei-me de mim embora fosse época de manifestos nacionais com ares repetitivos de caos. Sinais dos tempos; colheitas de nós. Coisas assim!

    Da voz de violoncelo aveludado do bom alagoano Djavan e dos acordes de seu violão escutei a doce versão brasileira de Smile, composição musical de 1936, do inesquecível Sir Charles Spencer Chaplin. E pus-me instantaneamente a filosofar comigo acerca do poder da poesia que brota em luz de flor nos campos libertários do pensar a entusiasmar corações e mentes de toda gente. Sobremaneira quando o pensamento poético é feito de amor e se materializa na escrita ou noutras formas e expressões como o canto, a pintura, a fotografia, a dança, o teatro, a teledramaturgia. É verbo aquecendo a vida – alegria pura a toda fauna e flora.

    Ademais, bom para valer é desfrutar dos dons de quem faz arte. Ânimos tantos emanam também vozes bonitas, articuladas e bem-ditas pelo rádio; ao pé da orelha. Melhor seriam, entretanto, apresentadores noticiando verdades boas; amenidades… Fantasias.

    Mas, dentre tantos sonhos de iguarias universais, as realidades neste planeta são ainda duras; cruéis; colossais; desiguais. Rodeiam-nos inevitavelmente o tempo todo. Aliás, somos efêmeros personagens da “divina comédia” – denominada humana.

    Ah! Circo, picadeiros, pandeiros, roqueiros, fadistas, flautistas, rodas de bamba, repentistas, pianistas, arenas, tablados, viadutos, pontes, escolas, câmaras, bombas de chocolate, estrelas, nuvens, hospitais, congressos, lagos, travessias, rios, colheitas.

    Ufa! Profusões de ocasiões. Fazemo-nos de nós, a favor de nós. Craques de forrobodós.

    Desejo sorriso perene… A força da mão que amassa e reza o pão.

E que “Deus te levede. Deus te acrescente, para dar de comer a muita gente. Deus te livre… De má gente”.

_PAULO DE TARSO PORRELLI