Por dentro do Globo da Morte

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Jamais pensei que o eletrizante Globo da Morte dos encantadores circos da minha infância viesse a me servir, na total contramão, de argumento análogo ao fatídico 2020.

Naquele Globo da Morte o show ocorria na parte interna duma enorme e reluzente bola de ferro, donde motoqueiros arrepiavam os nossos cabelos com as suas manobras para lá de arriscadas. Mas tudo acabava sempre bem e a plateia vibrava com os roncos dos motores em pleno zigue-zague.

Os circenses são assim: exemplarmente incansáveis nas práticas que os levam a perfeições.

Mas do lado de fora da bravura das lonas toda essa magia parece ter acabado. Vivemos agora dentro de um Globo da Morte de verdade. E a raça humana, ao que tudo consta, se fez cobaia de si mesma – e o Planeta Terra grita!

Madre Tereza de Calcutá nos ensinou que “o desalento é pior dos sentimentos.” Diga-me, por favor, como sentir-se diferente? Dá para ser indiferente a tamanho caos?

Ora, tenha a Santa paciência. A essa altura do campeonato termos nós de aprender e reaprender princípios básicos de higiene, como um simples lavar correto de mãos? Tanta gente morrendo. Um extermínio a céu aberto. E o que tudo isso significa?

Fazendo bom uso da tecnologia, a amiga e jornalista Maria Yamazaki envia-nos todos os dias oportunas mensagens do Padre Joãozinho. E numa delas ele disse: “é preciso coerência entre a palavra e a ação.”

Mas a vaidade, mãe da tirania, tem norteado nossos líderes e, mea-culpa, a todos nós meros mortais. E esse vírus, que já tem variantes, é um terrível choque sem fronteiras. Ademais, ele representa um apelo do tempo àqueles dos quais Deus, desculpem-me, deve ter se arrependido de incluir na sua criação universal.

Uma das máximas da língua Inglesa é: no pain no gain. Mas será que precisamos de tanta dor para alcançarmos recompensas? E quais ganhos têm sido esses desde que o mundo é mundo? Chega de vantagens. Não haverá futuro sem equanimidade.

Preferível, então, é a célebre: keep the faith. Tomara que a Fé nos salve de tanta desigualdade. E que o Globo da Morte volte a ser somente e tão somente um espetáculo circense.

Feliz Natal. Fé em 2021.

_PAULO DE TARSO PORRELLI