Crônica em preto e branco

Foto: Reprodução da Web

Emoção tamanha toda vez é avistar a Bandeira Brasileira fincada no número 10 da Kingsgate Place, em Kilburn, na Zona II, a noroeste da Capital Inglesa – bairro no qual George Orwell morou e onde ele concluiu o épico “Animal Farm” – “A revolução dos Bichos” na versão brasileira dessa primorosa obra literária de um dos mais aclamados jornalistas e novelistas ingleses em todo o tempo. Citando aqui uma das tantas referências históricas e culturais que a ‘boa e velha Albion’ contém em si.

Isso me traz de volta certas palavras do meu falecido pai Arcanjo Porrelli; um assistente social, professor de latim, português e etimólogo que trabalhou no SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, até o final da década de 1960, na cidade de São Paulo e depois em Piracicaba, onde nasci no interior paulista: “quando escrevemos estamos documentando e é preciso atenção e precisão nessa feitura, porque uma simples palavra ou vírgula pode custar vidas”; dizia Arcanjo. Exagerava ele?

Entretanto, que fique aqui sacramentada essa minha ‘pensata’ traduzida no formato de reverência escrita a um empreendimento denominado inteligentemente Barraco Café Ltd. Certamente o mais pitoresco e aconchegante café-restaurante da melhor cozinha e boa música brasileira que se pode encontrar na Inglaterra. É na fachada do Barraco que tremula o nosso pavilhão verde-amarelo-azul e branco há mais de uma década.

Analogamente, me pego sempre inconformado ao ler nos portais brasileiros que empreiteiros ainda vivem sob suspeita de superfaturamento de obras. Coisas assim! Notícias tristes sobre a ‘inevitável’ existência daqueles que, apesar de terem estudado nas melhores universidades do Brasil e do mundo, não aprenderam o significado da palavra caráter. Para que tantos títulos; etc. e tais? Insiste essa gente na prática da não-ética, do não-respeito à prosperidade e posteridade. Semeiam a corrupção, ensinam tudo errado a seus filhos. Não existe paraíso mesmo! Mas, na melhor contramão de toda a história há os bons que buscam, para compor os seus times de bons trabalhadores, “gente que sabe lidar com gente”; este sim o atributo mais importante do que o conhecimento meramente específico numa área de atuação profissional. Melhor é saber que há um crescente movimento de empresários de mentes e corações abertos já atuando nessa linha do mais genuíno espírito de equipe no batente diário.

Do lado de lá do Atlântico o Barraco Café-Restaurante desponta com um zeloso e simples jeito todo seu de existir, fazendo escola no campo da enogastronomia; com foco claro nos pratos e petiscos da culinária brasileira. Fruto do esforço humano do conterrâneo Reinaldo Morato – o Maha – junto a sua esposa Paula Del Buono, seu filho e talentoso chef Kaue Morato e coesa equipe. Maha é amigo de anos e nossas trajetórias felizmente se reencontraram lá nas Ilhas do Norte. ‘Caipiracicabano’ bom guerreiro e autodidata ele teve a visionária coragem para se atirar nos braços do mundo bem antes de muitos ou como poucos da nossa geração. Viveu doze anos na Itália e há quase vinte está radicado na Inglaterra. Fala quatro idiomas e, diferentemente de alguns dos ‘empreiteiros’ e ‘políticos’ brasileiros, honra cada passo atentamente à frente do seu negócio. É brasileiro do bem que venceu na Europa – consciente do seu papel social e funcional como bom prestador de serviços a este planeta tão conturbado. Como alegremente ele vive afirmando: “É nóis”.

Então, quando você visitar Londres, não deixe de ir até a tranquila Kingsgate Place, para descobrir ‘in loco’ porque, na Grã-Bretanha, o Barraco é um recanto sem fronteiras, feito para pessoas faceiras e apaixonadas por tudo o que é verdadeiramente bom: as delícias caseiras.

Ademais, estas são simples constatações reais de uma alma universal-brasileira vívida e já vivida no Reino Unido.

• O Barraco atende agora pelo nome Kaipiras by Barraco e está sob a batuta do chef Kauê.

_PAULO DE TARSO PORRELLI