Adoráveis Reminiscências

Foto: arquivo de família

Nunca mais vi a Professora Márcia. Depois do almoço eu caminhava lá de casa, na Bom Jesus, até a residência dela em frente ao legendário Bar Cruzeiro; hoje palco da melhor música regada à boa prosa de sempre. E, de mãos dadas, descíamos a Moraes Barros rumo às lúdicas aulas no IEP – Instituto Educacional Piracicabano. Na minha lancheira: ki-suco e pão com goiabada.

Professora Márcia tinha cabelos loiros, olhos claros e eu a enxergava lá no alto do céu feito um anjo intocável e bonita o suficiente para alimentar os meus primeiros sentimentos platônicos. Puro lirismo e proteção para quem principiava traços de ‘bê-á-bá’ e já se atrapalhava todo no entendimento da matemática da vida.

Estudar no Piracicabano era ‘chique no úrtimo’ – parafraseando aqui a genial dupla sertaneja dos conterrâneos César e Paulinho – sobretudo pelo embasamento filosófico e preceitos humanísticos ora já propostos pelo colégio naqueles obscuros anos do final da década de 1960.

Mas durou pouco a minha deliciosa ciranda de roda nos campos livres do pensar naquele belo e histórico prédio no centro da cidade. Agora esse recanto das minhas lembranças abriga o Centro Cultural Martha Watts. Imagine você! O edifício da UNIMEP Centro estava sendo construído à época.

Conclui lá o meu primeiro ano escolar, em 1968. Em março do ano seguinte tudo mudou. Meu pai morreu precocemente, o arroz com feijão ficou mais caro, e acabei transferido para o Prudente de Moraes – onde nos sentávamos a dois nas carteiras… E no meu banco a mais bela colega da classe. Eu batia figurinha, brincava de bolinha de gude e pegava rabeira no Bonde, para desalento do motorneiro. A toda mão ia parar na diretoria, levando aquele “sabão”. Mas essas são outras historietas.

Depois do Barão, onde tive a primeira redação exposta num mural, fui para o Sud Mennucci. Toquei na fanfarra e tive aulas matemática com o Mestre Octávio. Ele lecionava de terno e gravata e o chamávamos de Doutor. Os primeiros rabiscos das silhuetas do tempo nós aprendemos com o Professor Costinha. História e Professora Marli Perecin são identidades inseparáveis. As aulas nesses anos dourados ministradas pelo Professor Lino Sansígolo, então, nos davam bravas lições de vida. Ensinou-nos ele até a encadernar livros e a fazer raquetes de frescobol. “É uma brasa, mora?!”

Bem! Queria eu ter sido tão bom aluno quanto bons foram tantos outros mestres que tive a honra de ter.

Como nos ensina o piloto e escritor Antonie Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

_PAULO DE TARSO PORRELLI