Entusiasmado pelo memorável artigo da jornalista Mônica Paula (Prévia Eleitoral Jovem Pan: Jânio na Cabeça!), publicado na seção “Memórias da Redação” do Jornalistas & Cia, conto a vocês este meu causo.
Era um domingo de plantão de 1990. Estávamos lá no 24° andar do Edifício Winston Churchill quando o Fernando Vieira de Mello ligou para a redação. O Claudio Maurício comandava a chefia de reportagem naquela tarde – o Marcelo Parada de folga. A determinação do nosso saudoso e genial diretor de jornalismo era uma só: “encontrem a Rose Saldiva”.
Lembro-me de pouco antes ter voltado duma ‘padoca’ próxima à emissora, onde eu e o Valmir Salaro almoçamos pão com mortadela, tomamos algum refrigerante e conversamos sobre a tragicomédia em redor.
O primeiro verso de uma das épicas e docemente combativas letras das canções de Belchior – “eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior” – se aplicava com precisão cartesiana a este caipira que vos escreve.
Fui contratado pelo Fernando Vieira de Mello depois de ele ter lido uma carta na qual eu demonstrava interesse pela Pan, se fosse para encarar o batente numa rádio na Paulicéia Desvairada.
Bem! O fato é que na segunda-feira a Saldiva & Associados revelaria o resultado de uma das suas lendárias pesquisas comportamentais: “Um arquipélago chamado São Paulo”; na qual a rádio Jovem Pan fora eleita com 75% dos votos como a rádio com a cara de São Paulo.
Assim que o Claudio Maurício nos deu o recado do chefe eu vasculhei, feito cão perdigueiro, agendas, listas telefônicas, etc. e tais. E, nesse vaivém frenético, grudado ao telefone, acabei convencendo uma atendente da companhia telefônica a me passar um único número que fosse de alguém com o sobrenome Saldiva. O da Rose, proprietária da agência, era blindado.
Amparado por anjos, arcanjos e querubins disquei o número e do outro lado da linha ouvi a elegante voz de uma simpática e terna senhora. Era uma tia querida da Rose Saldiva.
Mansamente contei a ela que a minha carreira estava em jogo – “somente a Rose Saldiva poderia me ajudar no cumprimento da minha pauta”, reiterei.
– Filho! Mas, pelo amor de Deus, jamais diga à Rose que fui eu quem lhe forneceu o número dela.
Ufa! Pálido, respirei fundo e liguei. Mal ouvi o alô da Rose e disparei a falar sem ponto de corte.
– Rose Saldiva! É o Paulo de Tarso da Jovem Pan. Perdoe-me a invasão. É imprescindível gravarmos com você sobre a pesquisa. O meu diretor Fernando Vieira de Mello mande-lhe um abraço e toda gratidão pela sua atenção. Dedicaremos a semana à campanha, levando ao ar entrevistas com os principais personagens. Agora o nosso chefe de reportagem deste plantão vai falar com a Senhora, para já gravarmos a primeira sonora. Por favor, Rose, um só instante. Por gentileza, não deixe de nos atender novamente caso a linha caia.
Bradei algo como: – “Claudio Maurício, atenda a linha dois, é urgente”.
– Quem é? Respondeu ele.
– A Rose Saldiva, eu falei.
Quase nem dormi aquela noite inteira de tanta euforia.
Dizem que os fins justificam os meios. De todo modo: a Pan saiu na frente.
Antes da reunião de pauta da segunda-feira cedo recebi os cumprimentos do Fernando Vieira de Mello e do Marcelo Parada.
Os positivos desdobramentos desse case de sucesso da Saldiva & Associados via Jovem Pan vocês já conhecem.