Ele nos ensinou O Pulo do Gato

Foto: divulgação

    Soube da passagem do radialista e jornalista José Paulo de Andrade ouvindo o emocionante relato do Haisem Abaki na edição da sexta-feira (17) do Jornal Eldorado, competentemente ancorado pela dupla Haisem Abaki e Carolina Ercolin; de segunda a sexta na Eldorado/Estadão FM de São Paulo. Como bem disse o Haisem, o querido Zé Paulo fez escola e se transformou no “maior formador de opinião do rádio brasileiro.” E a Carolina Erolin acrescentou, foi “O Homem do Pulo do Gato.”

    Do lado de cá, simultaneamente o Evaldo Vicente, diretor de redação de A Tribuna Piracicabana, enviava-me uma comovente mensagem de áudio a reforçar quão respeitado e aclamado era o Zé Paulo por todas as cercanias das Terras de Pindorama. Na gravação a voz trêmula do veterano cururueiro Rubens Vieira – o Rubinho Véio, de Tatuí/SP. Eis a transcrição: “…Pois é Evaldo, na hora que eu terminei de fazer a minha live, eu estava na Band, assistindo… Morreu… E eu falo um amigo (Rubinho começa a chorar). Eu o curtia direto… O Zé Paulo de Andrade… É uma grande perda pro, pro Rádio. 78 anos de idade. Se você colocar na Bandeirantes… Talvez você já tenha se inteirado disso aí. Eu era fã dele no O Pulo do Gato. Todo caipira se levantava cedo… Eu lembro desde o tempo do Vicente Leporace. Eu era fã! Sou ainda fã da Rádio Bandeirantes. É uma grande perda. Um bom dia pra você e vamo que vamo, né!? Ele deve estar num bom lugar. Fica com Deus.”

     A Covid-19 levou o Zé Paulo na madrugada do último dia 17.

    Gente do país inteiro acordava ligado no programa O Pulo do Gato, que ele apresentava na Rádio Bandeirantes, onde trabalhou por mais de cinco décadas. Zé Paulo era também bacharel pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP. Foi rádio escuta, narrador de futebol – batia escanteio e cabeceava num mesmo lance. Um craque de rara destreza nos campos do Rádio.

    Certa vez o Roberto Cabrini concedeu-me a honra de produzir e editar uma singela homenagem do Jornal da Noite da TV Band ao Zé Paulo. E ele nos recebeu com habitual generosidade e simplicidade lá nos estúdios da Rádio – os gigantes são assim, elegantes de alma.

    É triste para valer assistir à partida de tanta gente boa a quem desejaríamos vida eterna na Terra. Mas, sabemos, não existe passe de mágica. Não há varinha de condão para tanto.

    Então, nessa sintonia tomo a liberdade de copiar e colar aqui um trecho doutro artigo meu sobre o rádio – esse eterno companheiro; veículo de comunicação que tantos ‘pulos do gato’ tem nos ensinado; quando pautado no amor e na ética, a exemplo da obra do benfeitor Zé Paulo: “a força do rádio fez-me muitas vezes querer desmontar o Transglobe Philco lá de casa. Os anos eram 60 e eu ainda garoto acreditava na existência de miniaturas de pessoas dentro daquele aparelho eletro mágico a emitir vozes e cânticos por todos os cantos.”

    Penso hoje que ter um microfone diante de si é uma dádiva de imensurável serventia humanitária. Orientar cidadãos a viverem conectados a seu tempo-espaço e a melhorarem o bem-estar comum, neste mundo tão controverso, é tarefa das mais gratas. Ainda mais no front daquilo que agora podemos chamar de ‘era da verdade’. Se for diferente, nada nos restará.

E o Zé Paulo verdadeiramente cumpriu essa missão, com bravura e nobreza. Muito obrigado, Mestre.

_PAULO DE TARSO PORRELLI